Craque, o Barcelona faz em casa.
No último dia 18 de dezembro, manhã no Brasil e princípio de noite em Yokohama no Japão. Era esperado um duelo de titãs entre aqueles que já são rotulados como os dois maiores craques da atualidade: Lionel Messi do Barcelona e Neymar do Santos, na final do Mundial de Clubes da FIFA. Porém parece que só o primeiro entrou em campo, e foi quase isso mesmo.
Com seu estilo de jogo clássico, a equipe azul grená não deixou o time da Vila jogar, forçando-os a assistir de camarote uma verdadeira aula de futebol.
E que aula! Messi, Xavi, Iniesta e cia deram várias lições não só ao time de Muricy Ramalho, mas a todos os outros do planeta. Eles mostraram como o jogo coletivo, somado com o talento de jogadores excepcionais formados nas categorias de base, pode ser decisivo. E o mais incrível é que eles pegaram diversos estilos e fizeram uma mistura poderosa. No time de Guardiola você pode ver nas variações táticas e na forte marcação por zona, o tal do "futebol total" dos holandeses. Lembrando que Johan Cruijff, cérebro daquela Holanda da Copa de 74, é ídolo no clube catalão, onde jogou nos anos 70 e foi treinador nos anos 90, ou seja, seus valores e ensinamentos foram amplamente encorporados na filosofia do clube.
Outra escola encorporada foi a brasileira, trazendo a tona algo que nós não reproduzimos por aqui faz tempo: o futebol arte. O toque de bola refinado e objetivo, sem firulas, com poucos toques (no máximo três) e sem chutões, a bola de pé em pé até o gol, algo como o Santos de Pelé nos anos 60 e o Flamengo de Zico em 81 sabiam muito bem fazer. Isso fica ainda mais ratificado após as declarações de Sandro Rosell, presidente do Barcelona após a final do Mundial: "O time mostrou hoje que gostamos de jogar, de tocar a bola, trabalhar o time na casa, mostrar ao mundo o jogo bonito que vocês (brasileiros) inventaram", disse o mandatário, à imprensa brasileira. Já Guardiola afirmou que o time buscou fazer aquilo que aprendeu com os brasileiros. "Não joguei no Brasil. O que tentamos fazer foi passarmos a bola o mais rápido possível. É o que o Brasil fez a sua vida inteira", completou.
Vale lembrar que para essa filosofia de jogo do Barcelona pegar foi necessário um trabalho feito a longo prazo. Há 30 anos que ela foi implantada em todas as categorias de base do clube, fazendo com que o jogador já chegue ao plantel principal completamente ambientado com estilo de jogo. Um chavão que o Flamengo sempre se orgulhou foi aquele de que craque o time rubro-negro faz em casa, se isso não pode ser visto com eficiência na Gávea há alguns anos, lá na Catalunha ela se faz presente. Dos onze jogadores que estavam em campo no fim do jogo contra o Santos, nove eram formados nas categorias de base do clube, até mesmo o argentino Messi é cria do clube, uma vez que está lá desde os seus 13 anos. Outros craques como Xavi e Iniesta, assim como o argentino, convivem com o restante do elenco sem qualquer tipo de vaidade, algo pouco comum no futebol. Tudo isso cercado por uma estrutura de primeira, com excelentes condições de trabalho para todos os profissionais, não apenas os atletas, mas também treinadores, médicos e etc.
Não seria pedir demais que o futebol brasileiro olhasse para esse modelo e bebesse diretamente da fonte, talento para isso sem dúvidas nós tempos, só falta a coragem e a determinação de implantar algo parecido e dar a cara a tapa quando as críticas vierem após os resultados ruins. Nunca é demais lembrar que o Barcelona antes de ser bicampeão mundial, perdeu outras duas vezes a mesma competição, que isso também fique de lição.