Geraldo, faleceu muito jovem. Mas era um gênio com a bola nos pés.
Houve uma época em que o futebol carioca era o melhor do Brasil. Indiscutivelmente. Passara a fase de Vasco da Gama e do Fluminense. Os times (porque nunca foram clubes) da época eram Botafogo e Flamengo.
Com este texto especial e fora da órbita do esporte amador, damos início a uma série de reportagens com alguns astros que, se não foram os melhores do país, conseguiram preencher o vazio de alegria que existe em muitos.
O Botafogo, com um estupendo trabalho de base, foi bicampeão carioca de 62/63 e, depois, com outra geração, em 67/68. O cabeça de tudo não foi Zagallo, como muitos pensam. Foi um cidadão que conhecemos no Rio de Janeiro, que atendia pelo apelido de Neca. Todos os grandes talentos formados nas hostes alvinegras até 1970, passaram pelas mãos dele. Pois, num golpe de mestre, os dirigentes flamenguistas conseguiram “roubar” Neca do Botafogo, iniciando uma nova era futebolística no clube do Morro da Viúva.
O começo da geração de ouro – Depois de um fim de década nem tão bom para o futebol, o Flamengo começa a formar a geração que daria as maiores glórias para o clube no esporte. Zico, que chegara ao clube em 1967, pelas mãos do radialista Celso Garcia, já se destacava nas escolinhas rubro-negras.
Em 1972, o Flamengo vence o campeonato carioca depois de sete anos e o jovem craque lidera o time juvenil no primeiro ano do bicampeonato da categoria – já havia estreado nos profissionais em 1971.
Neste ano ainda, outra grande alegria foi a conquista do Torneio do Sesquicentenário da Independência do Brasil. Porém, acontece um desastre também, que seria reparado somente nove anos depois. A goleada de 6 a 0 do Botafogo fere a alma da torcida rubro-negra.
O Flamengo de 1970/71 escalava entre os titulares o zagueiro Washington, verdadeiro “pau de dar em doido”. Foi então que “Seu Neca” descobriu que, nas categorias de base do Flamengo, além de Júlio César, Rondineli, Cantareli e tantos outros, havia um garoto que chamava a atenção de todos. Era conhecido apenas como “o irmão de Washington”. Esse poderia ser útil ao Flamengo.
O garoto era Geraldo Cleofas Dias Alves, nascido em Barão de Cocais/MG no dia 16 de abril de 1954. Era meia armador e jogava um futebol vistoso, digno dos maiores jogadores do mundo em todos os tempos. Num homem só, uma mistura dos hoje conhecidos Beckham, Zidane, Ronaldinho, Maradona.
GERALDO era um jogador de um talento incrível: extraordinário controle de bola, dribles curtos e incisivos, futebol solto e alegre. Convocado pelo técnico Osvaldo Brandão, estreou na Seleção Brasileira na Copa América de 1975. Jogou 7 partidas com a camisa do Brasil. Era uma das maiores esperanças do futebol brasileiro quando morreu, aos 22 anos, de choque anafilático, durante uma simples operação de amígdalas, no dia 26 de agosto de1976.
Jogou apenas no Flamengo, de 1972 a 1976, conquistando os títulos de campeão carioca de 1972 e 1974 e pela seleção brasileira, de 1975 a 1976. TIME DE 1974: Renato; Júnior, Jaime, Luis Carlos, Zé Mário e Rodrigues Neto; Tita, Geraldo, Nunes, Zico e Júlio César.
Geraldo foi chorado copiosamente pelo futebolista do Rio de Janeiro. Era desses jogadores que até o torcedor adversário admirava, aplaudia pela plasticidade incomparável dos seus dribles, das suas jogadas e principalmente da sua exuberante categoria. Uma vez, numa entrevista, Geraldo disse que tinha apenas dois amigos no futebol: a bola e Carlos Alberto Pintinho. Este não suportou a perda do amigo e foi embora para o exterior, onde reside até hoje.
O Flamengo sofreu com a morte prematura de Geraldo. Houve um declínio e uma longa espera pela reconquista das vitórias e dos títulos. Mas a espera valeu a pena. Em 1978, o Flamengo conquistou um dos títulos mais marcantes da sua história. Impediu o bicampeonato do Vasco vencendo a partida no final – gol de Rondinelli de cabeça – e deu início à campanha do seu terceiro tricampeonato carioca, completado em 1979 com dois títulos em um ano.
Era o início de um grupo que brilharia intensamente nos anos 80. Os talentos incipientes de Júnior, Andrade, Zico e Tita, a categoria veterana de Carpeggiani e Raul, coadjuvantes mais que brilhantes como Rondinelli e Cláudio Adão e os que ainda estavam por vir, como Leandro, Figueiredo, Mozer, Adílio, Júlio César, das divisões de base da Gávea, e Nunes, Baltazar e Lico.
Na seleção Geraldo fez 7 jogos. Desses, conquistou 6 vitórias e sofreu apenas uma derrota. Foi campeão da Taça do Atlântico (1976), Copa Rocca (1976), Taça Oswaldo Cruz (1976).
Retirado do blog do Oliveira Ramos no seguinte link: http://www.jornalpequeno.com.br/Blog/OliveiraRamos/?p=166#comments