Festa da galera antes do jogo decisivo no Maracanã.
O dia 6 de dezembro de 2009, começou para mim no sábado à noite. Quando eu não conseguia dormir, tamanha era ansiedade pelo que me aguardava naquele domingo, há exatamente um ano. Quando lá pelas 4 horas da manhã, finalmente peguei no sono, tive um pesâdelo, nele o Flamengo perdia o jogo e deixava o título escapar pelas mãos.
Ao acordar, veio aquele alívio, foi apenas um sonho ruim. A manhã custou a passar, mais do que nos outros dias. Almocei rápido, sem ao menor sentir o gosto da comida, queria chegar logo no Maracanã. Na hora de me arrumar, veio a dúvida por qual manto (alguns chamam de camisa, para mim é o manto sagrado) eu usaria, bati logo o olho no uniforme reserva usado em 2007, personalizada com o meu nome. São vários os fatores que me levaram a essa escolha, o primeiro é que essa foi a primeira camisa oficial do Mengão que eu comprei, diretamente de uma loja na Gávea, no dia do aniversário do Mais Querido. O segundo é que se trata de uma variação moderna do manto usado no Mundial em 81, pelo melhor Flamengo de todos os tempos. Que inveja do pessoal daquela época, iam para o Maracanã para ver Zico, Adílio, Andrade e Junior jogar. Eu já vi craques como Romário e Adriano, mas nunca um time como aquele.
Já devidamente trajado, sai de casa rumo ao meu destino. No caminho várias demonstrações de confiança, milhares de flamenguistas pela rua, dando um tom rubro-negro ao bairro do... Flamengo. Essas cores estavam mais evidentes dentro do metrô, eram poucos aqueles que não trajavam o manto.
Ao chegar ao maior do mundo, o mar de camisas nas cores vermelho e preto era ainda maior. Logo avistei meu amigo Thiago, o grande responsável por eu poder estar ali naquele momento. Durante a semana ele heroicamente virou a noite na fila para garantir os nossos ingressos, não tem dinheiro no mundo que pague a minha gratidão por ele ter me proporcionado esse momento mágico. Mas para chegar até as cadeiras inferiores, de onde veria o jogo, passamos por momentos nada mágicos. Aglomeração, empurra empurra e bastante confusão. Fruto da desorganização que o futebol carioca ainda, infelizmente, mantém na realização de eventos de grande porte.
Depois de muito sufoco conseguimos chegar aos nossos lugares e finalmente avistar o gramado do Maraca, que estava mais verde do que nunca. Faltava uma ou duas horas para o início do jogo e o estádio ia sendo preenchido pela massa, aos poucos as arquibancadas verdes, amarelas e brancas passavam a ter apenas duas cores: preto e vermelho. Bandeirões com herois daquele time e de outros vitoriosos esquadrões começavam a agitar no céu.
A agitação atingiu seu ápice quando o Flamengo entrou em campo. Uma bela festa com direito a mosaico e tudo. Antes disso, quando o Grêmio entrou em campo, eram ouvidos gritos de "Entrega, entrega", inclusive vindos da própria torcida do tricolor gaúcho, que em escala bem menor no estádio, não queria ver o título brasileiro nas mãos do rival Internacional.
Mas engana-se quem pense que o Grêmio de fato entregou aquela partida, muito pelo contrário. Com um time formado por reservas e garotos da base, os gaúchos dificultaram a vida do Flamengo e quase conseguiram colocar água no chopp rubro-negro.
Quando Roberson fez 1 a 0, aos 21 minutos do primeiro tempo, foi como se um enorme balde de água fria tivesse sido despejado em cima de todos nós ali na torcida. Um silêncio se fez, lembranças das últimas decepções vieram a mente: derrota para o América do México na Libertadores de 2008 e o empate diante do Goiás, poucas semanas atrás. Eu estava angustiado, não queria reviver aqueles fantasmas. Para piorar, o Inter abriu o placar diante do Santo André.
O Flamengo não jogava bem, nervoso, errava passes bobos. Nem parecia aquele time que bateu com propriedade o então líder Palmeiras dentro da casa do adversário ou o que superou o Atlético-MG por 3 a 1 com o Mineirão completamente lotado. Mesmo sem melhorar muito o Mengão conseguiu empatar aos 29 minutos com David, foi o combustível para empurrarmos o time para mais uma conquista. Porém até sair o segundo gol, me vi nervoso e tenho certeza de que quase enfartei.
Angelim comemora depois de marcar o gol do título.
E aos 24 minutos da etapa complementar a minha angústia foi embora e deu lugar a emoção. Petkovic cobrou escanteio da esquerda e Ronaldo Angelim cabeceou firme para o gol. O magro de aço, oriundo do interior do Ceará, acabará de entrar para a história, assim como o gringo se consagrou ainda mais com a camisa rubro-negra.
Quem foi que disse que depois do gol tudo foi festa? O Grêmio continuou atacando e levando perigo ao gol defendido por Bruno, me deixando ainda mais aflito. Por incrível que pareça, como eu falei no começo, os jogadores do Grêmio procuraram a todo custo o empate, mesmo que dessa forma o título fosse para o Inter, que continuava vencendo o Santo André.Mas quando Heber Roberto Lopes apitou o fim da partida a emoção voltou com tudo. Eu e todo o Maracanã estávamos extasiados, completamente enlouquecidos.
Eu, que já tinha visto os dois tri campeonatos estaduais e a Copa do Brasil pela TV, pude pela primeira vez ver ao vivo e a cores o Flamengo ser campeão, logo do Brasileirão que não conquista há 17 anos, desde 1992. Agora, exatamente um ano depois desse jogo, lembro com bastante emoção do campeonato que reconduziu o Flamengo para o lugar de onde jamais deveria ter saído: o topo.