Zico sozinho não faz milagre
Ontem, no primeiro dia do mês de outubro, todo torcedor rubro-negro sentiu um misto de tristeza e indignação ao se depararem com a carta de despedida de Zico do Flamengo. O Galinho não aguentou a pressão que sofria dentro do próprio clube, capitaneada pelo presidente do Conselho Fiscal do clube, autodenominado "Capitão Léo".
Todo mundo que o Zico é simplesmente o maior ídolo da história do clube da Gávea, deu aos rubro-negros as maiores glórias possíveis a um time brasileiro: sete estaduais, quatro brasileiros e os mais importantes de todos, a Libertadores e o Mundial Interclubes. Ele também é o maior artilheiro da história do clube com 504 gols. Se o Flamengo tem hoje a maior torcida do Brasil, com mais de 35 milhões de apaixonados, grande parte é por causa do Zico. Uma geração viu o Galinho de Quintino brilhar intensamente no Maracanã, se não de corpo presente no estádio, pela TV ou pelas ondas do rádio. A geração posterior, infelizmente, só pôde vê-lo através de reprises e das histórias contatas sobre ele (eu sou um desses admiradores póstumos).
Agora como dirigente ele pode não ter tido a mesma maestria dos tempos em que comandava o meio-campo vermelho e preto com o número 10 nas costas. Cometeu alguns erros, como manter por tempo demais o técnico Rogério Lourenço e apostar em jogadores de talento dúvidoso (entenda-se Val Baiano). Porém a proposta de Zico quando assumiu o cargo, em uma emocionante apresentação no dia 1º de junho desse ano, ele estava disposto a reorganizar o futebol rubro-negro pela raíz. Começando justamente pelas categorias de base, para reforçar aquela velha máxima de que "craque o Flamengo faz em casa". Estava também nos planos o término das obras do CT do Ninho do Urubu.
Porém Zico acabou sendo conduzido a um outro caminho, assumindo de frente a gerência do plantel rubro-negro. Ele até tentou trazer o ex-jogador Emerson para exercer essa função, mas tal contratação nunca foi possível. Com o tempo as coisas foram piorando, surgiram acusações infundadas contra Zico e seus filhos, que teriam lucrado com venda de jogadores para o clube e mais recentemente a de que a parceria Flamengo/CFZ estaria terceirizando as categorias de base do clube. Vale lembrar que nenhuma dessas acusações tem provas para validar tais atos. Elas só serviram para magoar e desgastar o relacionamento do Galinho com o clube, levando ele a se desligar do cargo, alegando estar atrapalhando o Flamengo.
Sim, ele estava atrapalhando o Flamengo, não o Flamengo que todos nós amamos e sim o Flamengo sujo, dos jogos de poder de pessoas que não devem nem gostar de futebol, mas que gostam de dinheiro, isso sim. O responsável por todas essas desconfianças foi o já citado presidente do Conselho Fiscal do clube: Capitão Léo, ex-chefe da torcida Jovem-Fla, que tem passagens pela polícia e já foi ligado a nomes como Edmundo dos Santos Silva e Eduardo Viana, o “Caixa D’Água”. Como um cara desses pode se declarar rubro-negro? Lamentável.
A presidente rubro-negra Patrícia Amorim perdeu um grande aliado e dificilmente conseguirá mudar alguma coisa. Não foi só o Flamengo que perdeu com a saída de Zico, o futebol carioca em geral perdeu mais uma grande oportunidade de se livrar da velha sujeira e voltar a ser referência (se é que já foi um dia).
Creio que o sonho ficou mais distante, mas não impossível. Fica a lição de que para se reestruturar o Flamengo terá que não só mudar um ou dois nomes, pois como diz o já batido ditado: uma andorinha só não faz verão, e sim tirar a corja inteira de abutres que rondam a tempos a Gávea. Sonho ver no futuro o Zico de volta como presidente e o Leonardo como gerente de futebol e com eles os verdadeiros rubro-negros, como Junior, Andrade, Adílio, entre outros que sempre honraram o verdadeiro Flamengo.